O Inquilino (The Tenant / Le Locataire, 1976, direção de Roman Polanski, baseado no livro de Roland Topor)
Terror / Drama
125 minutos
França
Elenco: Roman Polanski como Trelkovsky, Isabelle Adjani como Stella, Melvyn Douglas como Monsieur Zy, Jo Van Fleet como Madame Dioz, Bernard Fresson como Scope, Lila Kedrova como Madame Gaderians, Claude Dauphin como Georges Badar, entre outros.
TEXTO COM POSSÍVEIS SPOILERS! Não entro em detalhes muito específicos; porém, para eu falar de alguns temas do filme, preciso falar de uma coisa ou outra que alguns podem ver como spoiler ou não.
Está aí uma história que eu gostaria de ter escrito! Filme que encerra a trilogia do apartamento, que teve os filmes Repulsa ao Sexo e O Bebê de Rosemary. Baseado num livro do francês Roland Topor (1938-1997), o filme é ambientado na França, mas falado em inglês.
Conta a história de um parisiense de descendência polaca, interpretado pelo próprio Polanski, que aluga o apartamento anteriormente ocupado por uma mulher que se jogou da janela. Ninguém entende o que a levou a isso, mas o rapaz aos poucos começa a desconfiar que os vizinhos, pessoas especialmente desagradáveis, tenham algo a ver com isso, e que ele será levado ao mesmo destino.
Vou te falar... Eu já teria desistido do apartamento só com a maneira como ele foi recebido pela zeladora antipática. Um problema recorrente naquele prédio é a reclamação de barulhos inoportunos nas piores horas. A questão é que o protagonista Trelkovsky é sempre acusado de atentar contra a paz naquele prédio, quando na verdade ele é bem na dele. Na verdade, os vizinhos são bem estranhos...
Há até um quê de Kafka nesta história, com o indivíduo sendo pressionado e esmagado pelo sistema (e as pessoas inseridas nele), às vezes sem nem entender o porquê; ele é empurrado para uma sucessão de acontecimentos que fogem do seu controle. Há também um subtexto a respeito de um comportamento xenofóbico de boa parte daquelas pessoas em relação ao protagonista, ainda que isso não fique escancarado, mas dá para fazer essa leitura quando algumas vezes ele é questionado por seu nome.
E ainda há outra camada, sendo essa bem sutil no início, mas que se torna da segunda metade para frente o tema principal da obra: a perda da identidade e como ela pode ser confundida. É neste ponto que o filme assume o seu lado mais sinistro e o horror psicológico toma conta, com Trelkovsky vendo e ouvindo coisas que colocam sua sanidade em jogo. Aos poucos ele é direcionado a imitar o comportamento da inquilina anterior, a começar pelo comércio em que ele come e bebe o mesmo que a moça e é empurrado para fumar os mesmos cigarros que ela. Então ele parece mesmo estar sendo direcionado a fazer o mesmo ato desesperado que o dela. O filme até dá bem a entender que tudo pode estar só na cabeça do protagonista, que ele só está muito paranoico e acredita em um complô, mas aí vem a cena final e insere a dúvida de novo. E é daqueles finais impactantes. O filme até dá algumas pistas sobre a verdade desde o início, mas é ao reassistir que você nota melhor essas pistas mais sutis.
Este terceiro filme da trilogia do apartamento tem uma maior ligação de tom com o Repulsa ao Sexo: sem a menor sugestão de sobrenatural, diferente de O Bebê de Rosemary, que ao final até abraça um pouco mais esse aspecto sobrenatural, mas também sem mostrar para a gente o que há no berço/carrinho de bebê, o que ainda sustenta um pouco a sugestão de delírio (não apenas de Rosemary, mas dos outros personagens também.) Tanto o Repulsa quanto o Inquilino funcionam pela manifestação visual do que está interiorizado. E assim O Inquilino encerra perfeitamente a trilogia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário